Brain Dump

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O Teorema de Capullo

Quando eu era criança, tinham duas coisas que eu fazia bem: programar e desenhar. Em um certo ponto da vida eu decidi conscientemente deixar de lado o desenho pra focar na programação, mas não antes de tentar um emprego como desenhista :)

Isso foi quando eu tinha onze anos. Eu morava ao lado do estúdio do Ely Barbosa, que na década de 80 tinha vários personagens bizarros, incluindo um coelho que viajava numa escova de dentes voadora gigante. Na cara de pau eu fui lá e me ofereci pra desenhar os gibis deles. Incrivelmente, eles não falaram "se manda guri", mas fizeram de fato um teste pra ver se eu desenhava o suficiente. (Que eu acabei bombando. Tinha só onze anos poxa.)

Mas mesmo tendo optado pela programação, eu nunca deixei de lado esse lado artístico. Não por acaso, meus primeiros empregos foram todos com computação gráfica. E, embora há muito eu não desenhe, adoro comprar livros e revistas com técnicas de desenho, para o caso de algum dia dar vontade de desenhar de novo.

Uma das revistas que tenho aqui é a primeira edição da Wizard brasileira, onde publicaram na íntegra todo o curso de desenho do Greg Capullo (desenhista do Spawn), uma série muito boa chamada Curso de Impacto (no original Krash Course, tem digitalizado na web se você souber onde procurar). No capítulo sobre perspectiva, eu aprendi um truque muito bom com ele, que na falta de nome melhor eu chamo de Teorema de Capullo:

Se você tiver vários personagens de mesma altura em uma cena, mesmo que eles não estejam na mesma profundidade, sempre haverá uma parte do corpo deles que estará alinhada.


Sabendo usar a regra acima, fica super fácil desenhar cenas complexas com perspectiva correta. Pra ver experimentalmente como isso é verdade, eu fiz um programinha em pyOpenGL que desenha vários Ricbits em posições aleatórias, usando as regras acima:


Script em python que desenha a cena acima

Note como o teorema de Capullo é verdadeiro: apesar de estarem em distâncias diferentes, todos os Ricbits estão alinhados na altura da cintura. Naturalmente, a primeira coisa em que pensei quando vi o teorema foi: dá pra demonstrar? A resposta é: sim, dá, e é surpreendentemente simples!

Vamos assumir que o observador está a uma altura h do solo, e que o plano de projeção está na coordenada z=1 (sem perda de generalidade). Vamos projetar um ponto P qualquer nesse plano de projeção, cujas coordenadas são Px, Py, Pz, e a intersecção com o plano vai ser em Sx, Sy. O que nós queremos provar é que existe um Sy tal que, para qualquer Pz dado, sempre é possível escolher um Py, independente de Pz, que projeta nesse Sy. Virando a figura de lado ela fica assim:

(Thanks to Bani/Inkscape pelo diagrama)

Por semelhança de triângulos, nós tiramos que (Py-h)/Pz = Sy/1, logo Sy=(Py-h)/Pz. Agora é imediato, basta escolher Py=h que Sy sempre será zero, independente de Pz, QED.

A parte bacana de entender matematicamente o que acontece é que você pode extrapolar suas conclusões. Como a escolha de Py depende do h, isso significa que o ponto exato onde as figuras se encontram depende da altura do observador. Subindo o observador no script ficamos com uma figura como a abaixo, note como agora os Ricbits estão alinhados na altura do pescoço:


Um dia eu ainda volto a desenhar, mas enquanto isso programação e matemática são divertidas demais :)

PS: Minha resolução de ano novo é atualizar o blog pelo menos duas vezes por mês, então, se eu atrasar, me cobre!

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segunda-feira, 28 de julho de 2008

MapReduce is running

Quando eu era estagiário na década de 90, um dos meus primeiros projetos envolvia computação paralela. O projeto Visible Human tinha acabado de fatiar os primeiros espécimes, e nosso grupo estava doidinho pra fazer ray-tracing do volume de dados. Mas o volume de dados era grande demais pros padrões da época, e única saída foi importar uma Meiko com dez processadores, pra dar conta do trabalho.

(Meiko, aliás, que tem uma história curiosa. Apesar de ter dez processadores, só conseguíamos rodar processos em nove deles, tinha um que não funcionava de jeito nenhum. Depois de muitas ligações pro suporte, resolvemos desmontar a máquina pra ver se tinha alguma coisa errada no hardware, e, surpresa, entre o pente de memória e o conector na motherboard tinha um mosquito preso. Sim, aquela cpu tinha um bug :)

Mas programar diretamente a comunicação entre os processadores, com PVM ou MPI, é trabalho demais. A nossa solução foi escrever uma camada intermediária que abstraía a parte de comunicação e fazia o paralelismo de modo implícito. Nossa biblioteca era customizada pra visualização volumétrica paralela, mas hoje em dia a mesma abordagem é feita de maneira mais genérica, por pacotes como o Hadoop e o MapReduce, sendo que esse último eu uso bastante hoje em dia.

Mas, mesmo paralelizando o processamento, o melhor que uma abordagem dessas consegue é um ganho linear no número de processadores. Se o tamanho do seu volume de dados precisa daqueles prefixos que vêm depois do giga, então até o MapReduce pode demorar um pouco pra rodar. Nesse fim de semana eu encontrei o Randall Munroe, e pedi pra ele ilustrar como é um MapReduce na prática :)


Eu também aproveitei pra filmar o Randall enquanto ele desenhava esse sketch. Como o estilo dele é, hum, minimalista, isso o torna o único cartunista que eu conheço que consegue ser mais rápido que o Aragonés:

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